quinta-feira, maio 09, 2002

Antes Que Seja Tarde

Certa vez eu falei para você que as coisas não voltariam a ser como eram antes. Você, como sempre, riu e disse que eu sempre falava isso e nunca colocava em prática. Talvez fosse verdade até então, mas estava decidido a mudar. Você não acreditou, é óbvio.

Ontem você passou por mim e trocamos apenas breves olhares. O tempo nos tornou mais amargos e distantes. Era inevitável que isso acontecesse, mas você nunca acreditou. Brigava comigo e falava para eu deixar de ser idiota. Essa é uma das poucas lembranças doces que trago de nossos momentos passados.

Não tive muito tempo para reparar em você, mas pude notar que o brilho que você carregava em seus olhos desapareceu. Infelizmente não estive por perto para acompanhar essa mudança e, quem sabe, poder ajudá-la a não perder esse que era seu maior atrativo. Confesso que doeu vê-la assim.

Mas eu tinha que mudar, as coisas não podiam continuar daquele jeito. Éramos só você e eu contra o mundo, vivendo isolados de tudo e de todos. Precisávamos crescer. Nosso medo de perder um ao outro me parece tão inútil hoje quanto as juras de amor eterno que fizemos ao longo de anos de convivência.

Sua forma de andar ainda era a mesma. Por alguns segundos, virei a cabeça para trás e fiquei torcendo para que você fizesse o mesmo e nossos olhares se cruzassem novamente. Imaginei-me correndo de encontro a você, abraçando-a e dizendo que agora estava pronto para nós dois. Só que você seguiu andando sem dar qualquer sinal de que pudesse mudar seu curso.

Eu devia ter ouvido você, mas meu orgulho não deixou. E você sabia disso também, por isso não se preocupou em insistir comigo. Respeitou minha decisão e foi embora sem demonstrar qualquer ressentimento.

Pois é. Hoje chorei por ter visto você assim, e nem precisava lhe falar isso. Você já sabe. Ninguém jamais soube de mim como você.