domingo, outubro 16, 2005

Da distância que teima em voltar

Levantou-se e partiu. Apressado, descalço, ansioso. Não tinha caminho, nem direção. Desde cedo aprendera a se guiar pelo que não era óbvio. Era sempre assim. Acordava e seguia, fazendo do seu dia o que o dia queria que fosse. Vítima da casualidade, vivia sorrindo. Talvez minimizar as expectativas também minimizasse as decepções. Era uma hipótese, mas ninguém sabia ao certo. Ele não falava. Apenas seguia, cabeça erguida, olhar atento. Para onde, não faria diferença. Bastava ir.

Cada dia era o começo de tudo. Como uma tela em branco que, recebendo pinceladas de preto a esmo, ganha forma e sentido, sombra e luz. Andando, tudo ia se preenchendo. Estrada, tela, vida. Partida virando chegada. Chegada virando sentido. Sem direção, sem noção, sem pensar. O vento mudando de lugar. O silêncio dizendo que sim.

Apenas o coração a esperar...