domingo, outubro 27, 2013

Filme Noir


Ele olhou pela janela e avistou o horizonte seco mais uma vez. Na casa, a música sublinhava seus pensamentos, pedindo textos que as mãos não queriam escrever. Fazia muito que não dialogava com os sentimentos, sua alma calada no esquecer de fazer pulsar vida ali dentro. Talvez faltassem as gotas de chuva no vidro, o vento frio percorrendo a espinha. Quem sabe alguma saudade, um desespero de solidão. Alguma coisa que o fizesse reviver. Porque agora o horizonte era só horizonte, e os prédios em progressão não indicavam histórias a contar.

Eram cinco da tarde. Não havia mais cigarros, nem vinho. Os livros empilhados resumiam uma existência catalogada por palavras que tentava recriar para si. Via-se imóvel, inatingível, incógnita em busca do desaparecer. Um telefone tocando ao fundo. Um raio de sol invadindo o rosto de relance. O ar rarefeito, mas ideal. Ele se afastou da janela e começou a dançar. A sala logo se preencheu de sombras. As cores perderam seu lugar. Porque agora a tarde era só tarde, e a noite não parecia apressar-se em chegar.

Deitou-se, por fim, com o teto a lhe observar e o tempo a lhe sorrir. Fez-se melancolia, enquanto as luzes lá fora pareciam despertar.

Tornou-se início outra vez.