segunda-feira, maio 20, 2002

Sem Complicar

Ele a pegou pela mão e a puxou para perto de si. Os olhos dela estavam umedecidos por lágrimas que insistiam em não escorrer pela face. Seu corpo tremia levemente, como se pedisse amparo. Tinha a impressão que ela podia desmontar a qualquer instante tamanha era sua fragilidade, e a única coisa que lhe parecia ser possível fazer era abraça-la. Assim permaneceu por um longo momento, até que tivesse coragem de dizer ao menos uma palavra.

- Eu...

- Não fala nada.

- Você precisa...

- Pra quê? Eu já sei...

- Tem certeza?

- Claro. Você também sabe, não é?

- Talvez. Tenho tanto medo...

- Medo? Medo de quê?

- De te perder, ora.

- Deixa de ser bobo, vai...

Era ele quem chorava agora. Um choro alto, angustiado, que parecia não querer parar. Abraçou-a de novo com força, em um gesto de desespero para não deixa-la partir.

- Eu não quero te perder...

- E nem vai, pára com isso!

- Mas você parece tão...

- Apaixonada.

- Como é?

- É isso mesmo.

- Você tem certeza?

- Isso importa tanto?

- Claro...

- Não deveria.

- Como não?

- Você precisa aprender uma coisa...

- O quê?

- A não querer ter tantas certezas.

- Não dá.

- Claro que dá.

- E pra que eu pensaria assim?

- Pra ver que é muito mais simples viver.

- Até parece...

- Olha, acredita numa coisa: eu te adoro.

- Mesmo?

- Eu nem vou lhe responder. Não ouviu o que eu falei?

- Desculpa. Posso lhe dar um beijo?

- Ainda precisa pedir?

- É só pra ter certeza...

- Puta merda, desisto!