quinta-feira, janeiro 19, 2012

Sobre mares e amores

Quando ela apareceu e ele se viu completamente perdido, o universo parecia comum. Havia sol, havia árvores, havia vida. Só não havia ar. E então ela foi entrando, tomando conta, arrastando tudo como uma vaga do mar em tardes de inverno. A ele, apenas restava tentar colocar a cabeça para fora d'água e respirar, já que ir contra a correnteza de nada servia. Por isso, acabou se deixando levar e, quando viu, não podia manter mais os pés em terra firme. Enquanto isso, ela parecia sumir e voltar, seguindo a intensidade do oceano. Ali, o mundo era mudo. Ali, o coração era surdo. Às vezes ele tentava nadar em sua direção, crendo que era possível chegar até ela. Porém, o esforço era inútil, e o mar cismava em a deixar longe demais. Então ele saía da água, querendo fugir, mas descobria que o frio que fazia lá fora era mais do que podia suportar. E assim seguiam a luta; ele, nadador desesperado; ela, porto inatingível. Alguns diriam que havia poesia nesse bailar. Outros, que havia somente esforço inútil para não se afogar. Mas a verdade é que, enquanto ela se afastava, ele continuava a insistir. E cada braçada que dava no mesmo lugar não era um esforço para avançar – era apenas a vontade de a trazer até ali, sonhando com o dia em que a maré pudesse virar.