sexta-feira, novembro 26, 2010

Sinfonias

Ando devagar. Não tenho pressa de chegar. Aprendi com você a olhar para os detalhes do caminho e sentir cada passo que é dado sem compromisso. Por isso, nem a chuva fina e gelada que cai agora chega a me incomodar. “É tudo parte de algo maior”, posso ouvir você dizer, com aquele ar ingênuo que tanto me agradava. Esqueço. Prefiro atentar para a música que soa distante, como se convidando para repousar em algum canto.

Há uma casa. Ainda é longe, mas posso ver as árvores no quintal e os poucos movimentos das roupas no varal. A chuva aperta. A vontade de correr não chega. Alguém abre a porta e corre para retirar as roupas. Ouço os cachorros latindo, fora do tempo da música. A cena é bonita. Nem percebo quando a terra vai virando lama - meus pés pesam, como se me fincassem ao chão. Na verdade, eu não ligo. Sou parte deste lugar. Você, não.

Penso devagar. Respiro rápido. É tudo mais simples agora.

A música se perde no ar, ainda que persista em mim.