domingo, maio 12, 2013

Partir, andar, um lar, adeus



Ela precisava ir. Já não tinha mais fôlego, já não sentia mais pulsar sua vontade. Apesar disso, seus passos eram firmes, bem como sua decisão. Comprara um bilhete, tinha um destino. Ficar não lhe cabia agora. Aquele lugar não mais bastava. Aquele amor não mais existia. Não havia nem o que deixar para trás. Mas o dia era claro, e a luz era inimiga da fuga. Como sair sem ser notada? Como partir sem dizer adeus? Não suportaria as lágrimas da despedida. Estava preparada para tudo, menos para o apelo. Por isso, queria a noite. O escuro, o silêncio. O cúmplice dos amantes, o refúgio dos solitários. No entanto, as horas lhe sobravam, em eternidade circular. Arrumara e rearrumara todos os itens. Refizera todos os passos. Faltava apenas cruzar a porta. Lá fora, a liberdade a esperava. Uma nova vida de dúvidas e experiências. Fora do conforto. Fora do banal. Fora do óbvio. Enquanto isso, ele ainda seguia. Certo de que nada acontecia, satisfeito em seu pequeno universo. Incapaz de temer o girar da chave. E ela ali, olhando pela janela a vida lhe passar. Pensou em uma música e uma lágrima escorreu em seu rosto. Fraca. Suas mãos procuraram os bolsos, nervosas. Forte. Não cabia mais esperar. Aproximou-se da saída. Ele a chamou.

Talvez fizesse frio naquela tarde.

Talvez o céu brilhasse azul.

Talvez os olhos estivessem nublados.

Foi amargo o caminhar.