segunda-feira, fevereiro 04, 2013

Da ausência e do silêncio


Ainda hoje, quando me lembro do seu silêncio ao meu lado, fecho os olhos e posso ver seu olhar calmo, sentir sua respiração forte em mim. Foi com você que aprendi a valorizar o não-dito, o compartilhar mudo, o estar junto por estar. Nunca te disse, mas foi. E essa é uma daquelas lembranças fortes que não sou capaz de apagar. Talvez por isso, desde que você partiu, eu tente preencher os espaços com a música, aflito em não deixar as pausas soarem. Mas não adianta, a gente sabe. Porque os sons me doem agora, e o silêncio que cisma em reinar aqui é o da ausência, e não o da cumplicidade. E cada vez que você, já distante, emudece, eu, perdido, enlouqueço mais. Aí volto aos nossos espaços, mas você não está ali. Sou imposto a um novo começo, ainda que sua presença esteja em cada lugar que descubro. Então imploro, procuro, insisto. Me desespero. Só que você foi, e a cada vez parece se afastar mais. Impotente, assino a rendição e assumo que não sei como superar você, enquanto você segue seu caminho, sem nada do que um dia fomos. Porque se calar, para você, é ir adiante - e não ouvir, para mim, é morrer aos poucos. Assim, eu espero um sinal que nunca chega, e o silêncio que paira não é mais aquele que me faz feliz. E eu temo pelo dia em que nem o lembrar caiba mais a mim.