segunda-feira, janeiro 03, 2011

Sem título

Sempre gostei desse sorriso que se abre fechando os seus olhos já pequenos, parecendo iluminar seu rosto de tal forma que poderia fazer com que você enxergasse mesmo assim. É engraçado, porque, quando isso acontece, você perde um pouco da beleza séria que me conquistou desde o primeiro instante em que vi, sentada naquele banco, mirando o horizonte como se houvesse respostas para quaisquer dúvidas ali. E me lembro de que você, muito tempo depois, falou que não havia uma preocupação naquele instante, ainda que tenha sentido um conforto maior quando sentei ao seu lado e perguntei se podia ajudar você a procurar o que quer que fosse que estava conquistando o seu olhar. Era uma quinta-feira, acho que chovia, mas nunca consigo precisar. A verdade é que você não se levantou depois de alguns minutos em que, juntos, contemplamos o céu que nada dizia, e eu achei que aquilo podia dizer algo. Quando nos despedimos, o seu sorriso quis aparecer, porém não era a hora. Como não o conhecia, não sabia ainda como seria difícil ficar sem tê-lo em minha vida. Agora, depois de tantas vezes em que brotou espontaneamente, estranho a ausência, e me deparar com ele nessa velha fotografia que cisma em me encarar não traz qualquer tipo de alívio. Porque não vejo os olhos se fecharem, não ouço o som baixinho da sua risada nem sinto o seu respirar leve. Porque ele não se desfaz em seguida para dar lugar a um olhar carinhoso e uma expressão apaixonada. Porque ele eterniza o que nunca deveria ficar estático. Porque ele é só uma imagem, como aquela que você procurava no dia em que nos conhecemos. E que, nós sabemos, nunca estará ali, porque não existia. Sempre gostei desse sorriso. Sempre acreditei que ele só era para mim. Agora é hora de eu aprender a sorrir assim.