segunda-feira, agosto 16, 2010

Paralelos

Quando a frente fria que caía sobre a cidade se dissipou, deixando apenas em mim o gélido sentimento de ausência, parecia que começar o dia seria a tarefa mais difícil. Havia silêncio ao meu lado, e nem cada passo dado, ecoando no quarto semi-escuro, era capaz de preencher tamanho vazio. O café da manhã não precisava ser preparado – comer na cozinha era uma saída para não lidar com a segunda cadeira inerte junto à mesa da sala. Também não fazia sentido ter duas toalhas, duas escovas de dentes, dois pares de pantufas. Era tudo velho de novo.

Foi assim que aprendi que não éramos mais dois que se tornavam um. Ao contrário, agora era eu quem me dividia em partes: uma, insistente, queria que você voltasse. Já a outra, coerente, desejava nunca ter tido você aqui. Enquanto isso, em você já havia quase dois novamente, vida que segue como deve ser. Por isso, eu precisava acordar e levantar, começando, devagar e sem vontade, a voltar para mim.

Mas ainda não sabia por onde ir.