quinta-feira, novembro 06, 2014

Amar la trama*


Quando o poeta acordou e viu seus sonhos ruírem, decidiu que as palavras não poderiam cessar. Juntou seus cacos, enxugou suas lágrimas e abriu o peito num suspiro profundo. O coração (sempre ele) espasmava em batidas fracas de pedido de socorro, e a dor tomou conta quando já se pensava superar. Fez-se, então, poesia, preenchendo os versos com os sentimentos mais nobres. Dela pedia o olhar, o abraço, o beijo. Jurava vida a dois e felicidade eterna. E a Musa, coisa amada, nada respondia, guardada em sua torre cega e fria. A ele não importavam mais as horas - longas demais - ou os dias - amargos quase sempre -; somente o retorno, razão de quem ama, ressignificaria a existência. Por isso, a súplica virou refrão, em cores fortes e tons menores. Por isso, o desejo ficou, quieto e constante. Decidiu-se, pois, pela espera, já que seguir não era possível. Fechou o peito num soco, deixando as lágrimas rolarem pela face. Dobrou o papel escrito a sangue e o colocou no bolso. Bailou sem alma a canção do rádio. Amou intenso o cinza da tarde que caía. Brindou com o nada o amor de dois.

E se reafirmou poeta de uma palavra só.   

*com a benção de Jorge Drexler