quarta-feira, novembro 28, 2012

Casanova lament

Quando ela puxou seu braço e ele a olhou mais uma vez, a chuva já caía forte e era hora de ir. Havia a expectativa de um beijo, e aquela troca de olhares pedia uma urgência que não cabia hesitar. Foram segundos. "Tchau, então". "Tchau".

Ela caminhou firme enquanto ele a via partir, já de dentro do carro. Não houve olhar para trás. Mas ele, como ninguém, sabia que tinha deixado o momento escapar. Perdera a cena perfeita. Logo ele, tão afeito à ficção que vivia a sonhar com algo assim. Logo com ela, recém-saída de suas páginas para a vida. Falhara?

Sim, falhara. Ainda que, romanticamente, pudesse pensar que o retardar tornava a conquista mais valiosa, sabia que não conseguiria dormir com a angústia do não ocorrido. Pensou em telefonar, descer do carro, enfrentar a tempestade. Mas a esquina já ia longe, e o beijo também. Resignou-se. O abraço seria tudo que teria para lembrar.

"O senhor quer um pouco de ar?" - o taxista ainda comentou.

"Você não imagina como..."

terça-feira, novembro 13, 2012

Candelabros

As luzes acesas lá fora ainda são opacas, mas isso não me incomoda. Prefiro a boa música que ecoa em minha sala ou o frio que chegou precocemente em mim. Enquanto isso, a cerveja que você deixou à mesa apenas esquenta, junto com a vontade de que o seu retorno possa acontecer. Enquanto isso, você caminha na chuva, misturando as gotas com as lágrimas e fingindo sorrir. Quase tudo igual. Sempre soubemos que eram outros os nossos caminhos, e que as mãos dadas não tardariam em desatar. Não me incomoda. Há tempos aprendi que a travessia pode valer mais do que o chegar. Talvez você lamente. Talvez você me odeie. Talvez tenha deixado para lá. Tanto faz. Eu pego outra cerveja. Eu deixo você não estar. Porque a música é boa, o frio também. A luz aqui dentro é mais do que metáfora. A chuva não cai sobre mim. Então invento alguém que eu saiba onde encontrar. E vivo minha ficção porque a realidade em que você está já não é a que me satisfaz.