segunda-feira, maio 23, 2005

Finitude

Estendeu a mão e não alcançou nada. Estranhou aquilo, mas tentou de novo. Vazio. Seus olhos, porém, continuavam a ver as formas à sua frente. Não fazia sentido. Era capaz de sentir a energia que vinha, uma força de presente e de passado, com referências que o inquietavam. Tinha a sensação de que as coisas sempre estiveram ali, apenas esperando para serem associadas. Só ele era capaz de ver. E ela. Só que ela já não mais queria enxergar, deixava as luzes se apagarem e as formas se esvaírem, mesmo sabendo que bastava o seu olhar para tudo voltar a existir. Os braços dela agora estavam cruzados, e sozinho ele não conseguia alcançar. Mas tudo lembrava, tudo o chamava, tudo ainda era. Não haveria de sumir, pois já tinha vida própria - não eram coisas simplesmente, mas as coisas deles, construídas, planejadas, sonhadas, com ou sem forma para o mundo, reais. E é por isso que os olhos dele ainda vêem, mas as mãos não conseguem tocar, porque nunca tocaram, nunca puderam sentir como era a matéria. Não que não tivesse desejado; somente não havia ido até lá. Assim, fechava os olhos toda noite esperando não ver mais nada ao acordar, ainda que soubesse quão inútil aquilo era. E se via feliz depois porque as coisas estavam dentro de si, fortes, pulsantes, intensas, e o vazio não era verdadeiro. Promessas, "pontos-em-comum" e o que ainda estava por construir. Tudo como sempre e como nunca. Por isso as mãos dele insistiam em buscar - só cessariam se ele parasse de existir. Os olhos fugiam, mas não tinham por quê. Aquelas luzes jamais iriam se apagar.