domingo, fevereiro 06, 2011

Valsa de Barcelona

O metrô esvaziou. Quando percebeu, seus olhos já pairavam sobre ela. De repente, os olhares se cruzaram, mas ele não acreditou na correspondência e mirou algum outro ponto do vagão. No entanto, a todo instante a procurava de novo, e a cena se repetiu mais algumas vezes. Uma. Duas. Três estações. Entra um grupo de meninas. Falam alto, incomodam. E estão ao lado dela, que tenta fugir com os fones de ouvido. A ele, tudo o que resta é ficar ensurdecendo. Mas ela repara na cara de desaprovação dele e sorri. Ele corresponde, vendo que ela também se aborrecia com as adolescentes. Já é certeza que seus olhares estavam se esbarrando por vontade mútua. Ele pensa em ir até ela. Não vai. Ela também permanece no seu lugar. Faltam três. Duas. Uma estação. Ele precisa descer. Ela não está olhando. Na plataforma, ele vira para trás. Ela observa, esperando uma mudança de plano. A porta se fecha. Eles nunca mais vão se encontrar. Durante a noite, ele vai se arrepender por não ter dado aqueles poucos passos. E vai torcer para que a partida de futebol sirva para consolar. 

(Mas este texto já diz que não)