sábado, março 22, 2008

As mudanças da hora de partir


Dez e meia e ela não estava pronta. Não que fosse a primeira vez, nem mesmo seria a última, mas naquele dia eu estava especialmente cansado de esperar. O tempo corria, o sono aumentava e eu não deveria estar ali. O combinado era nove, ela sabia. E parecia não se importar.


Dez e quarenta e ela não estava pronta. Nada mais natural, já que eu continuava a esperar. Paciente ou impaciente, tanto fazia. O fato é que ela sabia que eu estava ali e, pior, que eu não iria me mandar. Não havia sono, cansaço ou urgência no mundo dela. E eu aceitava sem reclamar.


Dez e cinquenta e ela não estava pronta. Não existia mais o que a fizesse se preocupar. Meu sorriso já era passado, meus olhos repousavam silenciosos. Quase nem lembrava do que fazia ali, cego para a demora que se fazia. Passos leves, portas se abrindo, luzes acesas. E nós dois ainda no mesmo lugar.


As onze nao chegariam. Ela continuaria lá, pensando no que poderia vestir. E eu, absorto em pensamentos de tanto esperar, descobriria o inevitavel: de nada adiantava tentar mudar.