terça-feira, junho 21, 2011

Indomável

Assimilo o golpe e me afasto para respirar. Foi-se o tempo em que eu me esquivava de cada cruzado que você desferia; agora prefiro deixar a cara exposta para ver se a porrada é tão certeira a ponto de me fazer apagar de vez – quem sabe a memória, quem sabe você. Mas a dor física é igual à psicológica, e só repito que preciso suportar. Quando percebo, estou no centro do ringue de novo, desafiando você sem sequer ter forças para me defender. Enquanto isso, você arma sua guarda para um eventual ataque meu, como se não soubesse que sou incapaz de partir em sua direção. Extasiado, percebo sua troca de guarda, e ao invés de amedrontar, a violência dos movimentos me faz pensar na leveza de seu corpo quando o tinha junto a mim. E assim tento puxar você de volta, freando a luta com um abraço, do qual você se desvencilha e responde com uma nova investida. O golpe agora é mais duro, e fico tonto, quase sem pensar. Mas quando meus olhos focam outra vez, consigo perceber o seu sorriso, que já traduz uma superioridade que não consegue me incomodar. Sou aquele que já não pode lutar, por fim. O último me joga à lona tão fortemente que o som é seco. Enquanto a contagem soa longe, vejo seus braços levantados e me pergunto qual vitória faz você vibrar. Afinal, não existe platéia a aplaudir nem troféu a erguer. Fecho os olhos, cansado, querendo ficar ali para sempre, esperando que o despertar leve junto qualquer lembrança de nós dois. Porque, no final, quem vai perder é você.

quinta-feira, junho 02, 2011

A primeira de todas iguais

Às vezes eu busco botar um pouco de felicidade em mim. Ouço uma música, vejo um filme, leio um livro. Mas parece que sempre existe algo aqui dentro que atrapalha todo o plano, que me faz lembrar que a tristeza é regra, e não exceção. E assim um texto novo brota, fruto de uma inspiração que eu adoraria não ter. E com ele vem a saudade, a ausência, a angústia – só não vem você, seja lá quem você for. Nunca sabemos, não é?

Reluto, insisto, paro de escrever. É quando vejo que há uma parte do que eu sou que precisa sair, e as palavras são a maneira que encontrei para isso acontecer.

É sempre assim.

Não sei se porque as lágrimas já rarearam, não sei se porque os suspiros já silenciaram.

Talvez porque a sua voz eu nunca (mais) ouvi.

Eu só sei que escrevo. Não aprendi a dizer.

E no papel encontro o remédio para a solidão que eu cansei de sentir.