quinta-feira, outubro 21, 2010

Mãos - a obra

Às vezes ainda sou capaz de ouvir sua voz falando baixinho bom-dia no meu ouvido e volto a sentir meu coração batendo acelerado, igual a quando eu imaginava que era assim que queria acordar pelo restante da minha vida. Nem parece que foi há tanto tempo que você deu boa-noite e subiu, me deixando sozinho no carro com um longo caminho até minha casa e uma solidão que parecia nunca mais ter fim. Sua voz ainda é nítida, meu coração ainda faz o peito doer. Mas não há saudade. Talvez lembrança, mas a ausência não é mais sentida. Porque o tempo ensina a se acostumar com o vazio, e a gente aceita, finalmente, que a presença nem era tão importante assim. É mentir para si mesmo. Tanto antes, quanto durante. Até depois. Segredo para fazer dar certo, dizem. Eu nunca soube, então o que falo deve ser verdade. Também o que eu sinto. Por isso a sua voz é nítida, mas o seu rosto já se foi. E se meu coração ainda acelera, pelo menos o seu cheiro já se dissipou no tempo. Agora é só a memória, em uma das caixas que você me ensinou a reservar para cada um que passa por nós e vai, assim, sem ter um porquê. Como você, que até hoje eu não entendi porque veio ou como se foi. Só que não está aqui – e que é melhor assim. Assim os dias podem ser bons, não é?