sábado, novembro 05, 2005

"Indo embora, deixo-te um adeus"*

E o silêncio fez-se de novo quando o telefone alcançou a mesa. Não o silêncio do espaço, mas o silêncio da alma, aquele que confirma dolorosamente o vazio deixado por uma partida, a angústia causada por uma recusa, a tristeza vinda de uma palavra não-dita. Era ele contra o mundo, de novo. E não havia riso, por isso do silêncio fez-se o pranto, constante e intenso. Uma dor que saía dali e se respaldava ao sul, como se migrasse em busca de lugar melhor para se alojar. Mas lá só encontrava felicidade, alívio, e retornava ao seu centro, solitária, única e inquietante. Enquanto isso, as mãos percorriam a face, tentando em vão conter as lágrimas, e a boca se retorcia, trêmula. Ele pensava conhecer a sensação, mas só agora, vivendo, entendia o que tantas vezes as histórias de amor tentaram lhe dizer em forma de aviso. E chorava como criança, desesperado, buscando justificativas que não existiam e repetindo para si mesmo que não podia ter sido em vão. Talvez precisasse ter aprendido a não esperar tanto, ou então a não acreditar que existia respaldo no impossível. Só que era ingênuo no que falava ao coração, e se deixava trair sempre que buscava melhorar. Dessa vez, porém, havia sido mais. O gesto era familiar. A dor, incomparável. Os protagonistas os mesmos. Bastava mudar o final.

E foi assim que ele partiu para não mais voltar.

*por Marcelo Camelo, em "Tenha Dó"