domingo, dezembro 15, 2013

Domingo, 22h20


Ela prendeu os cabelos mais uma vez e continuou a falar. Confesso que ali já era incapaz de entender qualquer palavra que saía por entre seus lábios - estava apaixonado por sua delicadeza, por aquela forma tão sutil de fazer cada ação. Imagino que eu não fosse o único. Era fácil render-se a ela. Sua pele branca, seus olhos levemente apertados, seu jeito tímido. Poderia passar horas olhando-a fazer coisas simples e, ainda assim, admirá-la mais a cada minuto. Mas era um instante, não mais do que um instante, e eu sabia que logo iríamos nos afastar. Por isso, mantinha minhas mãos inertes, sem qualquer tentativa de aproximação. No máximo, levantava uma delas para tomar um gole do café que já nem quente estava mais, quase como um gesto sem propósito. E guardava para mim as emoções, com medo de abreviar o término inevitável. Eu pensava, admirava, sentia. Enquanto isso, ela falava, e sua pele branca parecia ainda mais bonita em contraste com as luzes que iluminavam a rua lá fora, e os seus olhos quase se fechavam quando ela sorria ao final de uma frase, e sua timidez se destacava quando ela percebia que eu não parava de olhar. Era difícil até respirar. Foi quando seus dedos encostaram nos meus e o mundo parou de girar. Tudo era silêncio. E nós dois ali, no centro do nada. Simplesmente perfeito. Absolutamente único. Obviamente irreal.

- Sua conta, senhor.