terça-feira, dezembro 10, 2002

Diálogo (In)Consciente

- Você já pensou em sumir?

- Sumir? Como assim?

- Sumir, cara. Desaparecer mesmo. Dar um tempo de tudo. Da vida, das pessoas...

- Ah, tá. Não, acho que não. Quer dizer... sei lá, tem horas que bate um desespero, que parece que nada dá certo, mas acho que nunca quis sumir não.

- Sei...

- Por quê?

- Eu devo ser muito estranho, então. Penso nisso direto.

- Tá falando sério?

- Tô, cara. Volta e meia tenho vontade de sumir.

- Mas por quê?

- Pô, não sei dizer... acho que é porque nada dá certo pra mim.

- Ah, fala sério! Também não é assim.

- É sim.

- Claro que não. Deixa de ser pessimista.

- Como se desse...

- Ih, pode parar. Não vem com esse papo de novo não.

- Tá bom.

- Você precisa mudar, cara.

- Eu sei.

- Precisa se acostumar a ser feliz.

- Eu sei.

- E o que você tá fazendo pra conseguir isso?

- Sei lá.

- Porra, não é possível. Você tem que fazer algo, cara!

- Todo mundo diz isso.

- Então pronto. Por que não faz nada?

- Não sei o que fazer.

- Como não?

- Não sei, pô! Tudo que eu tento dá errado. Acho que eu só faço escolhas erradas, nunca vi.

- Isso é coisa da sua cabeça, na boa. Tem que acreditar mais, cara. Senão vai mesmo dar tudo errado sempre.

- É foda.

- Não, não é. Você precisa mudar.

- Eu sei.

- Sabe?

- Não. Na verdade eu não sei nada.

- Pois é. Aí é que tá o problema. Sabe do que você precisa?

- Do quê?

- Aprender a viver.

- E como eu faço isso?

- Pra começar, pára de querer fugir. Você tem que viver a realidade, porra.

- Mas isso dói.

- Claro que dói! Se relacionar com os outros é complicado. Mas você não pode viver sozinho!

- Por que não?

- Porque não dá, ora. Você vai viver se escondendo por aí?

- Acho que sim.

- Então, amigo, vai nessa. Só não diz depois que eu não avisei.

- Beleza.

- Ah, só mais uma coisa...

- Diz.

- Desse jeito você vai ficar sozinho pra sempre.

- Eu sei.

- E isso não te incomoda?

- Talvez. Mas não tanto ao ponto de eu me preocupar agora.

- E por que não?

- Porque amanhã isso tudo pode mudar.

- Como assim?

- Ah, esquece. Eu sou muito instável.

- Tô vendo.

- É por isso que mantenho todo mundo longe de mim.

- Tarde demais, eu já tô aqui. O que você vai fazer agora?