terça-feira, abril 26, 2011

Resistência

“Tudo fica”, você costumava dizer. As palavras ditas, os momentos vividos, os sentimentos compartilhados. Coisas assim. E o esforço de apagarmos os rastros de nada costuma adiantar. Mas admiro você por tentar viver como se nada tivesse acontecido. Deve ser alguma espécie de talento esse que você tem de ignorar por completo toda uma existência a dois. Eu, infelizmente, ainda não o desenvolvi. Deve ser por esse motivo que a foto continua ali na mesa, e o cd que ouvíamos antes de dormir nunca saiu do aparelho de som. Enquanto isso, imagino que na sua casa o quadro branco não tem mais a minha declaração, e que o filme que perdíamos tardes revendo já virou mero adorno em uma prateleira esquecida. Talvez nem mesmo o espaço vazio que tantas vezes você alegou não suportar ainda exista aí. É tudo uma farsa tão grande assim?

Não sei se quero saber.

Ok, tudo fica - mas o quê? O vazio, a mágoa, a angústia? A solidão, a tristeza, o medo? Eu? Porque você pode ir, já foi, não vai voltar. E o que restou aqui é parte de um passado que o presente não quer esquecer. É lembrança, vontade, esperança, teimosia. É vão (se vão). Agora você é isso.

E eu não sei se quero você.