sexta-feira, novembro 16, 2001

Confusões

Ele quer tudo como era antes. Sabe o quanto ela é importante, o quanto ela é especial. Gosta muito dela, é verdade, mas sabe que essa relação acaba fazendo mal para ambos. Não consegue se controlar, e acaba vivendo tudo com tanta intensidade que a ama e a odeia com a mesma freqüência. Tem horas que sente vontade de mandá-la ao espaço, pedir para que suma de vez da sua vida. Mas também tem os momentos em que não consegue pensar em sua vida sem ela, e tem vontade de telefonar, de dar nela um abraço bem apertado, de chamá-la para sair. Só que não o faz, é claro. Seu orgulho é muito grande para isso.

Ele sabe que o tempo infelizmente não volta, e que tudo que aconteceu não pode ser apagado assim, de uma hora para outra. Os sentimentos envolvidos em todo o processo não têm como simplesmente serem ignorados, como se não fossem fortes o suficiente para fazer com que o mundo dele seja maravilhoso ou desabe por causa de um ato ou de uma fala dela. Ao mesmo tempo, queria que nada disso precisasse sumir daquela relação. Queria poder continuar apaixonado por ela, queria poder continuar com a certeza de que ela é a pessoa certa, queria poder ainda ter esperanças de que um dia ficarão juntos e serão felizes. Mas ela já desfez todos os seus sonhos, já lhe mostrou que as coisas não podem ser assim. A cabeça dele até entendeu, mas o seu coração... não tem jeito, não consegue mesmo. É muito burro.

Ele ouve de todo mundo que está na hora de partir para outra, de erguer a cabeça e seguir em frente. "Só uma nova paixão para apagar uma antiga", não é? Quanta hipocrisia. Ele sente que é impossível se envolver com alguém se não a tira da cabeça. De certa forma, sabe que seria o melhor a fazer, pois ela realmente não o quer. Mas ele gosta de ser idiota, de quebrar a cara, e continua achando que pode mudar a opinião dela. Por conta disso, sofre a cada dia que a encontra e não a tem. Uma hora vai acabar aprendendo, é verdade, mas por enquanto ainda é muito difícil. Melhor seria se ela sumisse do mundo, se o deixasse em paz de vez. Será mesmo?

Ele conta os dias que está em casa e não a vê. Aluga filmes do Woody Allen para tentar melhorar seu humor e ver se o tempo demora menos a passar. Ouve três vezes seguidas aquela música que ela adora e tem vontade de morrer. Ou de matá-la, é verdade. Sente raiva por ela estar lhe trazendo tanto sofrimento, tanta solidão. Só que também a adora, mesmo sem saber o porquê. Ela realmente mexe com seus sentimentos. "Maldita hora que a conheci", fica repetindo para si mesmo. Mal sabe ele que isso é apenas o começo...

Ele quer se declarar mais uma vez. Mandar flores, chamá-la para sair. Porém, cada vez que eles se falam um pouco disso vai morrendo. É verdade que sua teimosia não o faz acreditar por completo no fato dela não o querer mais, mas mesmo assim está cansando um pouco dessa situação. Uma hora ele vai estourar, uma hora ele não vai mais aguentar. Ela não pode ficar manipulando a situação desse jeito. Será que não consegue respeitar o que ele sente? Não é tão difícil assim.

- Por que você continua me ligando?

- Porque eu gosto de você. Você não gosta de mim?

- Gosto, claro.

- Então pronto. Vamos ser amigos?

- Você está louca?

- Assim não dá, assim não dá.

- Mas não quero que você vá embora.

- Não?

- Não.

- Por quê?

- Sei lá.

- Eu não entendo...

- Nem eu, nem eu...