domingo, outubro 12, 2003

Sem Estações

Venta forte cada vez que penso em você. Jamais imaginei que o clima pudesse representar tão bem o que a saudade faz comigo, mas a chuva me ensinou que é simples assim, quando molha meu rosto e lembra as lágrimas que derramei por você. Aprendi que se tudo fica cinza, é porque você não está por perto, e que se está claro, é para meus olhos se fecharem e me forçarem a lembrar do que já se foi.

Mas aqui dentro é sempre escuro, então não sinto você. Talvez seja mais fácil assim. Porque o papel em que lhe escrevi está na minha mesa há mais tempo do que deveria - não o entreguei, mas também não o joguei fora. Observo-o todo dia jogado ali, às vezes o pego e leio as linhas tremidas e palavras manchadas, depois o largo de novo, enquanto volto para minha cama para viver uma vida que não é triste assim. Então acordo em um novo dia sozinho, e fico certo de que não tenho escolhas por as coisas serem tão diferentes nesse mundo daqui.

Estranho perceber que qualquer decisão sempre me é penosa, ainda que elas não representem tanto assim. Talvez não consiga lidar com os resultados, arcar com as conseqüências de uma manhã ser de sol e outra chuvosa. Quem sabe eu prefira o tempo frio para me colocar debaixo das cobertas e me defender dos trovões como criança assustada.

Ou apenas eu sinta que não há lugar seguro para ir sozinho.