quarta-feira, dezembro 26, 2001

Réquiem Para Uma Bela

Nos dias de chuva parece que sinto você aqui do meu lado. Sei que não devia ser assim, mas não consigo evitar. Parece besteira, já que, na verdade, nunca tive você de fato. Mas essa sensação me invade quando o tempo está assim. Talvez por você ter ido embora num dia como esse. Talvez por eu me sentir mais sozinho em dias como esse. Não sei ao certo.

O fato é que é tudo muito estranho. O céu cinzento me lembra você. As gotas batendo na janela me lembram você. Minha cama parece ter você. Só que aqui não tem ninguém, nem mesmo eu. Fico vagando pelo quarto escuro, fazendo dele meu mundo de poucos metros quadrados, como se não houvesse nada além disso para se viver. Às vezes me pergunto se realmente há, aliás. Tenho a impressão de que as coisas perderam um pouco do seu sentido real naquele dia que você partiu. E dói saber que eu não pude fazer nada para evitar.

Digo agora que ganhei uma sobrevida, que apenas me arrasto sem a perspectiva de melhoras. Se você pudesse ler isso, iria dizer que é besteira minha pensar assim. Provavelmente me daria um tapa no braço e diria que sou um bobo. Mas você não pode mais fazer isso, não é? E até disso eu sinto falta. E de você andando rápido pelas ruas como se fugisse de mim. E de você gritando pela janela do seu apartamento que o mundo era pequeno demais para nós dois. Só que o mundo foi pequeno demais para você, que resolveu partir e me deixar assim. Com essas incertezas e essa dor que parece não cessar.

Você destruiu seu mundo e levou o meu. Eu não merecia isso. Por causa do seu egoísmo, tenho agora uma sombra que me impede de seguir em frente, mesmo depois de tanto tempo. Você não imaginou que seria assim, eu sei. Achava que a decisão era sua e que não atingiria ninguém à sua volta. Ilusão. Se você visse como sigo desde então, talvez se arrependesse de ter feito o que fez. Agora é tarde.

Eu adoro dias de chuva. Mas hoje, mais do que nunca, eu odeio você.