quarta-feira, novembro 28, 2012

Casanova lament

Quando ela puxou seu braço e ele a olhou mais uma vez, a chuva já caía forte e era hora de ir. Havia a expectativa de um beijo, e aquela troca de olhares pedia uma urgência que não cabia hesitar. Foram segundos. "Tchau, então". "Tchau".

Ela caminhou firme enquanto ele a via partir, já de dentro do carro. Não houve olhar para trás. Mas ele, como ninguém, sabia que tinha deixado o momento escapar. Perdera a cena perfeita. Logo ele, tão afeito à ficção que vivia a sonhar com algo assim. Logo com ela, recém-saída de suas páginas para a vida. Falhara?

Sim, falhara. Ainda que, romanticamente, pudesse pensar que o retardar tornava a conquista mais valiosa, sabia que não conseguiria dormir com a angústia do não ocorrido. Pensou em telefonar, descer do carro, enfrentar a tempestade. Mas a esquina já ia longe, e o beijo também. Resignou-se. O abraço seria tudo que teria para lembrar.

"O senhor quer um pouco de ar?" - o taxista ainda comentou.

"Você não imagina como..."