sábado, outubro 13, 2012

Pausa, descompasso

Por não poder chorar, ela fechou os olhos. Não devia ter mais do que 5 anos quando isso começou, fugindo das dores que a primeira queda da vida lhe ofereceu. Era apenas um balanço, era apenas um corte, mas já sentia, ali, que o mundo não era um lugar para sofrer. Agora, quando caía mais uma vez, não parecia disposta a se entregar ao sentir. Por isso, respirou fundo e deixou seu pensamento migrar até onde tudo era apenas vazio, silêncio, ausência. Foi simples. Estava acostumada a sair de si. Na verdade, o problema era voltar. Sabia que, quando os olhos se abrissem, teria que encontrar tudo que tentava esconder nas sombras do próprio interior. Então prolongava o momento até quase não mais existir. Nem ele, nem ela. Como se pudesse ir além. Como se pudesse ir.

Mesmo sabendo que qualquer lugar seria longe demais de onde ela realmente queria estar.