quarta-feira, novembro 16, 2011

Epílogo

Quando ela o olhou e disse “aquela noite nunca existiu”, ele temeu por suas lembranças. Que ela levasse seus planos, vá lá. Mas que o destituísse de suas memórias, isso não podia consentir. Era como se acostumara a viver, e não era justo pedir que não o fizesse agora. Ainda tinha os cheiros, a música, o toque. Já não tinha esperanças brancas. Fechou-se.

“Acredite, nós sequer tivemos juntos”. Os olhos dela eram sérios, não havia titubear naquelas palavras. Era o seu abandono, a sua liberdade, enquanto pedia a ele que afogasse o que restara de si. Ela não sorria, já não sabia mais como o ser. Era outra, ainda que a mesma. Não tinha as dores, as alegrias, as vontades. Tinha o cinza dos dias nublados. Fechara-se.

Aquela manhã não passaria. Aquela tarde não deveria chegar. Só a noite, passado-presente, cismando em voltar. E ela pedia que esquecesse. E ele tentava desaprender a sonhar. Como dois, eram nada. Cada um estava só. Deixaram-se.

Com a certeza de quem vive de dúvidas, ele se pôs a caminhar para as cores de um outro lugar, enquanto a noite se encerrou nela com a escuridão de quem não olha para trás. Calaram-se.

Nada tinha existido. Nada valia insistir.

“Desculpa, eu nunca estive aqui.”

Foram-se assim.