terça-feira, março 09, 2004

Leaving Here

O dia estava calado. Ele olhava para o horizonte, aflito, e não encontrava uma resposta. Sentia que o mundo mudara desde o momento em que aquelas palavras caíram em seus ouvidos, porém não sabia precisar o que viria a partir de agora. Estava sentado em uma praça, o céu escuro de um fim de tarde atípico e o corpo cansado de tanta responsabilidade. Nem as crianças no parque pareciam sorrir, entediadas com seus brinquedos velhos e os olhares displicentes de suas babás. Ele era único ali. Sua pouca idade pesava mais do que o aceitável para alguém que quase nada sabia da vida adulta, e a falta de perspectivas que lhe tomava agora doía demais. Havia perdido a vontade de agir, apesar de não aceitar os acontecimentos. Fora traído em seu íntimo, a confiança abalada no futuro de tudo aquilo e o medo do fracasso de volta à tona. Chorou. Gotas de chuva caíam dos céus, que eram cúmplices mudos daquela tristeza. Apenas um sinal de que podia sentir-se assim era o que ele conseguia enxergar, mas a resposta do mundo tinha chegado enfim. A melancolia da tarde pintava o quadro do fim de um tempo. Não existia mais saída. Fechou os olhos e correu em direção ao mar. A luz do dia acenou tímida, escapando de sua prisão. Os dois estavam livres de novo.