quinta-feira, novembro 20, 2003

Cores da Noite do Fim

Quase dez da noite e só se ouvia o silêncio. Um leve vento brincava com a cortina da janela semi-aberta e a sala estava escura. Deitada no sofá, ela chorava discretamente, cartas espalhadas pelo chão e uma garrafa vazia de vinho tinto ao seu lado. Transbordava angústia, a consciência da solidão lhe perturbando enquanto tentava não sentir mais dor. Não conseguia esquecer aquele abraço, a despedida para um salto que só poderia terminar em nada. Ainda podia sentir o perfume dela, o toque leve nos cabelos que nunca ficam arrumados, e era impossível não sentir saudade. Aceitar os rumos que tudo tinha tomado era o primeiro passo, mas como seguir? Ficara pequena, abandonada em sua nova condição, e só pensava em quanto errou ao não valorizar o que tinha. Só quando o barulho arruinou uma noite de silêncio uma semana antes ela de fato sentiu. Havia sido tarde, porém. Tirou o rosto das almofadas e enxugou as lágrimas. Do sofá, sentiu que o vento a chamava para fora. Caminhou até a janela e a fechou. As luzes do outro lado do vidro ficaram mais fracas, enquantos seus olhos desistiam de olhar. O corpo ao cair no chão rompeu de novo o silêncio. Mas dessa vez ninguém iria sentir.