Imagens
Avistou seu rosto no espelho e teve vontade de chorar. Não estava triste, é verdade, nem havia motivos para tal, mas mesmo assim teve vontade de chorar.
Pensou estar ficando louca, estar perdendo de vez todo e qualquer bom senso que ainda havia restado dentro de si, porém não poderia precisar o que de fato acontecia agora. Sentia-se estranha.
Esticou a mão em direção à imagem e a tocou com sutileza. Parecia não crer que o que via ali era ela mesma. Em um gesto fraco, deslizou os dedos pelo espelho, enquanto as pernas, irriquietas, mexiam de um lado para o outro.
Com calma e suavidade, pegou a tesoura que estava em cima da penteadeira. Andou até o armário e tirou o vestido mais caro que lá havia. Lentamente, cortou-o em vários pedaços. Amarrou-os pelas pontas, deixando-os com a forma de uma corda.
Um a um, foi cortando os fios de seu cabelo, até deixá-los totalmente disformes. Tirou os sapatos, a blusa, a calça. Apagou a luz do abajour. Com passos curtos, foi até a janela. Abriu-a. O vento que soprava no oitavo andar era forte e quente. A noite estava sublime.
Passou a mão pela testa e viu que suava frio. As pernas, antes irriquietas, agora estavam trêmulas. Não obedeciam mais. A cabeça pesava, lágrimas rolavam do rosto incessantemente.
Deu dois passos para trás. Respirou fundo, buscando coragem para fazer o que era necessário. Contou até cinco. Usou então toda a sua força e lançou janela afora aquele espelho maldito. À corda feita com o vestido propiciou destino semelhante, como se revidasse às mazelas da sociedade consumista.
Virou as costas para o mundo lá fora e orgulhou-se de sua atitude: "não há imagem que possa ser tão bela a ponto de se morrer por ela".