Caros leitores,
O desembucha.com resolveu sair do ar em definitivo e, por isso, migrei para o blogger.com. Para os que entravam no antigo endereço, essa mudança tem tudo para ser ótima, pois acredito que não haverá mais problemas para acessar o conteúdo diariamente. Agora é só ter paciência: aos poucos irei recolocar os textos aqui, e espero que vocês continuem freqüentando esse espaço da mesma maneira que faziam antes.
Para começar, fica o texto que me rendeu mais elogios na antiga versão do Rumo Ao Nada. Com os leitores novos, espero repetir o sucesso. Já em relação aos antigos, só posso pedir desculpas por estar me repetindo, mas não poderia simplesmente jogar fora tudo que já estava escrito lá. Prometo algo novo para breve.
Dias Assim
Tem dias que eu sinto saudades de você. São poucos, é verdade, mas eles existem. Normalmente são dias cinzentos, frios, dias que eu queria que você estivesse aqui ao meu lado. Mas você não está.
Em dias assim, costumo pegar o cobertor, enrolar-me nele e sentar na poltrona do canto da sala. A sua poltrona. Acendo a lareira, pego uma taça de vinho e ligo o toca-discos. Coloco aquele vinil que você me deu de presente de Natal e ouço várias vezes o mesmo lado, num gesto mais do que automático. Passo o dedo lentamente pela borda do copo, como se alisando os seus cabelos. Fito o retrato de nós dois juntos naquele verão do ano passado acima da lareira e faço menção de pegar o telefone. Mas sempre desisto.
Em dias assim, costumo reler todas as cartas que escrevi para você e que nunca tive coragem de enviar, mas que também nunca rasguei. São palavras que vão das mais doces às mais ásperas, muitas vezes sem nenhum sentido. Algumas escritas com tanta raiva que chegam a marcar a folha do outro lado. Outras, tão suaves que mal consigo ler o que está escrito. Penso em enviá-las agora, apenas para mostrar tudo o que você fez comigo quando me deixou. Mas me parece tão inútil que as deixo no mesmo lugar.
Em dias assim, vejo o seu filme preferido pela milésima vez e lembro de cada comentário seu. Vou à cozinha e faço brigadeiro para comermos com colher. Coloco aquela blusa roxa com listras amarelas que você tanto odeia e deixo a cama desarrumada só para você implicar comigo. Passo o dia deitado, olhando para o teto e revendo fotos das viagens que fizemos. Aperto o travesseiro contra o rosto para ver se ainda sinto o seu cheiro nele, igual ao que fazia todo dia de manhã quando você já havia se levantado para preparar nosso café.
Em dias assim, tenho vontade de berrar bem alto o quanto eu te amo, de dizer tudo aquilo que não disse antes por puro medo ou orgulho.
Nesses dias que sinto saudades, penso em você me olhando com carinho e dizendo que nunca vai me deixar.
E me pergunto se dias melhores virão.