Estranhos
O sol começava a se pôr logo que ela chegou à praia. Uma brisa fresca amenizava o clima, e a quietudade que se instaurava naquele trecho isolado da orla lhe dava a calma necessária para organizar seus pensamentos.
Sentou-se na areia e passou a observar o mar. As ondas eram pequenas e raras, dando um aspecto de serenidade ao oceano, como se esse compartilhasse do seu atual estado de espírito.
Abriu sua bolsa e de lá tirou um pequeno baseado, o qual acendeu rapidamente. Deixou seu corpo tombar na areia. Deitada, sentia-se mais leve; tinha a sensação de que nada poderia lhe perturbar.
Permaneceu assim por alguns minutos, até que resolveu levantar e caminhar um pouco. Avistou a alguns metros um grupo de 3 surfistas sentados na areia e lhe pareceu ser interessante ir até lá. Assim o fez, despretensiosamente.
Dois dos rapazes foram para o mar logo que ela se aproximou. Um, porém, permaneceu sentado, olhando-a fixamente. Ela o cumprimentou de forma tímida, ao que foi respondida com um gesto para se sentar.
Durante poucos segundos um silêncio perturbador se fez presente. Enquanto ele observava os dois amigos tentando em vão arranjar uma boa onda, ela mantinha os olhos baixos, perdida em sua viagem particular. O sol já não se fazia mais presente e a noite anunciava-se com um céu limpo e estrelado.
- Me dá um beijo?
- O quê?
- Me dá um beijo?
- Cê tá maluco? Eu nem te conheço, garoto!
- Eu sei... por isso mesmo!
- Ha! O que cê tá achando que eu sou?
- Não tô achando nada. Só quero um beijo, só isso...
- Cê acha que é assim? Fala sério!
Ela se levantou bruscamente. O rapaz não tentou impedi-la, sequer disse uma palavra. Permaneceu sentado, observando o movimento do mar. Enquanto isso, ela se afastava dali, visivelmente incomodada com o que havia acabado de acontecer.
Os seus passos foram se tornando mais lentos aos poucos. Na sua cabeça, uma grande confusão se fazia agora. Apesar da forma com que foi feito, ela não podia negar que o pedido lhe havia deixado feliz. Estava sem alguém há um bom tempo, e tinha sempre a impressão de que não era desejada por ninguém. Mal ou bem, o que acontecera há pouco fôra bom para o seu ego.
Parou de repente. Olhou para trás e viu que o rapaz estava no mesmo lugar, na mesma posição. Os amigos pareciam ter desistido das ondas e conversavam animadamente sentados em suas pranchas na água. Caminhou decidida até ele, que mesmo com sua aproximação permaneceu com o olhar perdido no horizonte.
Sem que dissesse uma palavra, ela lhe deu um beijo afoito. O rapaz nada fez. Ela, confusa, surpreendeu-se com a atitude dele.
- Cê não vai fazer nada?
- Como assim?
- Cê não queria um beijo?
- Sim.
- E agora que eu resolvo te beijar cê faz isso?
- Isso o quê?
- Não reage, não faz nada!
- O que cê queria? Eu nem te conheço...