segunda-feira, fevereiro 21, 2005

àsvezesquasenuncaparasempre

Ela fechou os olhos, ele esticou a mão. O rosto fora tocado de leve, enquanto a lágrima que escorria de um dos olhos era desviada de seu fatídico destino, o chão. Não havia som ali, nem mesmo o choro contido de um sofrimento incomum. Talvez nem respiração existisse naquele momento; apenas um gesto e nada mais. O tempo até poderia ser medido, se um instante como aquele coubesse em um lugar pequeno como o universo, mas eles mesmos não desejavam saber. Estavam, eram, foram. O que mais precisava existir?

Ele mexeu os lábios, ela levou seu dedo a eles. Não havia porque buscar palavras, pois elas não seriam capazes de significar algo assim. Não devia existir movimento, sob o risco de esvanecer o belo. Eram dois e um só, a união perfeita da imperfeição humana. Impossível definir o que se passava em corações paradoxais como aqueles: eram dor e alegria, distância e companhia. Completavam-se, apenas. Não sabiam ainda, é verdade, e talvez nem saberiam um dia, mas a incógnita não os incomodava. Já sabiam o principal.

Havia o toque da mão, o rosto lívido e o ar rarefeito, nada mais. E tudo era suficientemente único ali.