domingo, maio 02, 2004

Entre pontos e vírgulas

O que é fazer poesia para quem não sabe ler? Será que há cor nas palavras de quem vê em branco e preto?

Era tudo o princípio. Ainda se via a liberdade pelos seus olhos, e o cinza que fechava o dia era exceção, não a tônica de um mundo particular. E ela sabia, por isso se punha a escrever sobre além do que se vê, ainda que essa percepção pudesse ser sua, só sua, e a dele fosse tão fechada que seria impossível acreditar no novo não concreto.

Mas ela tinha a palavra para enfrentar o seu olhar, e ele fugia para não ter sua verdade descoberta assim. Ignorara a poesia até então, certo de que não havia entrelinhas que justificassem a crença em um outro lugar (talvez não quisesse se achar), mas perdera seu lugar no chão enfim. Caótico, buscava sempre o entendimento, só não o esperava por olhos que não fossem os seus. Afastou-se, por fim.

Era preciso continuar a ver o sol se pôr sozinho.