domingo, outubro 26, 2003

Dos Meios, O Fim

Ela andava sozinha, pisando descalça nas poças de lama, os olhos cansados e um cigarro nas mãos. Já estava naquele caminho há um bom tempo, horas talvez, mas não tinha a intenção de parar. Era tudo vazio à sua volta, e não havia ponto de partida ou de chegada; apenas o pensamento buscava algum sentido, enquanto o corpo era automático em seus gestos. A estrada de barro, imperfeita, dizia a que ela que não era única em sua busca, ainda que não se soubesse o que deveria ser encontrado. Perturbava-a a idéia de que sua paz fazia-se no silêncio, e um grito amargo saiu de sua boca involuntariamente. Ventava leve agora, e umas poucas nuvens ao longe anunciavam chuva para depois. Mas o agora era o que importava, quieto e vazio em sua essência.

Ajoelhou-se. Seu corpo agora estava mole, cedendo ao cansaço. Curvou-se para a frente e encostou o rosto no chão. A terra parecia lhe dizer algo, mas não conseguia entender. Sentiu o coração bater mais lento e voltou seu olhar para o céu. Um pássaro voava solitário em meio à imensidão cinza do dia. Fechou os olhos e apertou as mãos. Esperou sorrindo. A estrada de barro lhe dera algum sentido enfim.