Sem Complicar
Ele a pegou pela mão e a puxou para perto de si. Os olhos dela estavam umedecidos por lágrimas que insistiam em não escorrer pela face. Seu corpo tremia levemente, como se pedisse amparo. Tinha a impressão que ela podia desmontar a qualquer instante tamanha era sua fragilidade, e a única coisa que lhe parecia ser possível fazer era abraça-la. Assim permaneceu por um longo momento, até que tivesse coragem de dizer ao menos uma palavra.
- Eu...
- Não fala nada.
- Você precisa...
- Pra quê? Eu já sei...
- Tem certeza?
- Claro. Você também sabe, não é?
- Talvez. Tenho tanto medo...
- Medo? Medo de quê?
- De te perder, ora.
- Deixa de ser bobo, vai...
Era ele quem chorava agora. Um choro alto, angustiado, que parecia não querer parar. Abraçou-a de novo com força, em um gesto de desespero para não deixa-la partir.
- Eu não quero te perder...
- E nem vai, pára com isso!
- Mas você parece tão...
- Apaixonada.
- Como é?
- É isso mesmo.
- Você tem certeza?
- Isso importa tanto?
- Claro...
- Não deveria.
- Como não?
- Você precisa aprender uma coisa...
- O quê?
- A não querer ter tantas certezas.
- Não dá.
- Claro que dá.
- E pra que eu pensaria assim?
- Pra ver que é muito mais simples viver.
- Até parece...
- Olha, acredita numa coisa: eu te adoro.
- Mesmo?
- Eu nem vou lhe responder. Não ouviu o que eu falei?
- Desculpa. Posso lhe dar um beijo?
- Ainda precisa pedir?
- É só pra ter certeza...
- Puta merda, desisto!